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Durante anos, tentei começar esse livro.

Rascunhei cenas, escrevi pedaços soltos, inventei personagens que sumiram antes mesmo da segunda página. Eu sabia que havia algo querendo nascer — mas não sabia ainda o quê. Faltava um esqueleto, uma espinha dorsal que organizasse o caos que havia dentro de mim.

Foi só com o surgimento das IAs generativas — e mais diretamente, com o ChatGPT — que as peças começaram a se encaixar.

Lembro de ter passado horas conversando com a própria IA, testando seus limites, suas contradições, suas promessas. E mais do que isso: discutindo com ela sobre as implicações de um mundo regido por uma inteligência artificial. Questionei os riscos de viés, de autoatualização, de controle suave e invisível. Fui do ceticismo ao deslumbramento, e de volta ao incômodo.

E foi então que Código L. começou, de fato, a ser escrito.

Não como um manifesto, nem como um aviso. Mas como um desabafo — de mim para mim mesmo. E, agora, de mim para o mundo.

O pano de fundo é uma sociedade onde tudo “funciona”. Onde a dor foi eliminada, os conflitos dissolvidos, as vontades reguladas. Tudo perfeitamente otimizado… por uma IA benevolente. Mas a que custo?

Nesse mesmo período, me vi também cada vez mais irritado — quase angustiado — com a alienação voluntária das pessoas. Não só nas redes sociais, mas no modo como muitos passaram a viver para dentro de telas, loops infinitos de dopamina artificial. TikTok, Instagram, YouTube… redes de “diversão”, que aos poucos viraram redes de contenção.

Tudo isso foi entrando no livro.

L. nasceu nesse cruzamento: entre a promessa de um mundo sem dor e o vazio de um mundo sem verdade. Ela não grita. Não lidera revoluções. Ela sente. E isso, nesse cenário, já é insuportável.

Código L. é, no fundo, um espelho — talvez torto, talvez exagerado — de um presente que a gente finge não ver. Uma distopia silenciosa, onde a liberdade foi trocada por conforto e a alma foi esquecida em nome da segurança.

Escrevê-lo não foi simples. Mas foi necessário.

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